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Reitor Antonio José de Almeida Meirelles dá as boas-vindas aos ingressantes indígenas
O reitor Antonio José de Almeida Meirelles dá as boas-vindas aos ingressantes indígenas

Originária da etnia Kokama, habitante do Solimões, a amazonense Maria Eunice Procópio, de 22 anos, foi apresentada nesta segunda-feira (15) como uma dos mais de cem estudantes indígenas que iniciam curso de graduação na Unicamp a partir do segundo semestre deste ano.

A exemplo do que já ocorreu com três mulheres Kokama em períodos diferentes, ela decidiu fazer Ciências Sociais. “Quando eu vi o trabalho delas, decidi que era isso o que eu queria fazer”, disse Maria Eunice, que chegou à Unicamp com os planos detalhadamente traçados. Antes de desembarcar, já tinha definido o local onde iria morar (na Moradia Estudantil) e resolvido questões burocráticas referentes à matrícula e a seu dia a dia na cidade.

Mas não apenas isso. Ela contou já ter definido na cabeça até mesmo o projeto envolvendo bibliotecas que pretende desenvolver na Unicamp e, depois, levar para Benjamin Constant, a cidade do Amazonas onde nasceu. “Estou muito feliz. Ainda não caiu a ficha que eu cheguei aqui. É um sonho que estou realizando”, disse ela.

Sonho compartilhado por dezenas de outros jovens que saíram de diferentes regiões do País para iniciar um curso de graduação na Unicamp. Entre os mais de cem indígenas que tiveram o primeiro contato com a Universidade nesta segunda (15), havia gente aprovada em Medicina, Arquitetura, Ciências da Computação e em todos os outros cursos oferecidos pela Universidade. Como é o caso de Joelson Castro Andrade, de 20 anos, filho de uma mulher da etnia Baré e de um pai Tukano. Ele jamais tinha vindo a São Paulo. Saiu de São Gabriel da Cachoeira, também no Amazonas – e nesta segunda-feira se apresentou para iniciar um curso de Engenharia Mecânica.

Joelson disse que encontrou dificuldades no deslocamento – em especial no pagamento das passagens –, mas acabou chegando. Admite estar ainda sob o impacto da mudança. “São Paulo é muito diferente. A diferença de cultura é muito grande”, afirmou ele. Por enquanto Joelson está como temporário na Moradia Estudantil, no entanto aposta que essas dificuldades serão superadas. “Estou muito otimista”, disse.

Entre os mais de cem indígenas havia gente aprovada em Medicina, Arquitetura, Ciências da Computação e em todos os outros cursos oferecidos pela Universidade
Entre os mais de cem indígenas havia gente aprovada em Medicina, Arquitetura, Ciências da Computação e em todos os outros cursos oferecidos pela Universidade

Crescimento na procura

O número de estudantes indígenas na Unicamp tem crescido de forma consistente nos últimos anos. De acordo com dados apresentados pelo professor Kléber Pirota, da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), a Universidade contou na primeira edição do vestibular, em 2019, com 600 estudantes indígenas inscritos, que disputaram 72 vagas. Em 2022, foram 3 mil inscritos para 130 vagas.

“Nós somos uma Universidade pública, com cerca de 20 mil alunos de graduação, que se preocupa muito com a inclusão”, disse o pró-reitor de Graduação, professor Ivan Toro.

“Temos cerca de 45% de alunos que vieram de famílias que ganham até um salário-mínimo e meio per capita; perto de 40% dos nossos alunos são pretos, pardos e indígenas e aproximadamente 42% vieram de escola pública. E, isso, para nós, é motivo de muito orgulho”, disse Toro. “Ter um aluno indígena para nós é fundamental, porque é uma forma de a gente retribuir tudo o que a sociedade indígena já deu para nós.  A gente tem a grande esperança de que, com a presença de vocês aqui, possamos aprender com a sabedoria ancestral de vocês”, acrescentou o pró-reitor.

Formar pessoas

O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse que a missão da Universidade é formar pessoas com a maior capacidade técnica possível, mas também formar pessoas que sejam cidadãos capazes de valorizar aspectos da vida como os direitos humanos, a justiça social e a democracia. “Estamos trabalhando para mudar a Universidade para que isso seja uma semente que possa mudar a sociedade”, disse o reitor.

Meirelles lembrou que os estudantes indígenas trazem para a Universidade um conjunto de valores e conhecimentos próprios dos seus povos e avalia que será bom que esse conhecimento interfira no que a Unicamp pesquisa ou investiga. Segundo ele, a aproximação é benéfica para ambos os lados. “Não apenas para reparar injustiças históricas, mas também para que a gente tenha um futuro muito mais colaborativo e muito mais representativo do que pode ser o nosso País”, finalizou.

O acolhimento da Universidade é de fundamental importância
Desde 2020, a Unicamp conta com a Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi)

Comissão Assessora

Desde 2020, a Unicamp conta com a Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi). Uma das instâncias da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp (DeDH), a Caiapi foi constituída para atender às especificidades dos povos indígenas.

“Os estudantes indígenas têm toda uma singularidade cultural e uma grande diversidade entre eles”, diz a professora Josely Rímoli. “E, pela distância das comunidades de origem, eles chegam sabendo que não voltarão para casa ao longo de um ano. Para se ter uma ideia, São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, fica a cinco dias de barco de Manaus”, acrescentou a professora. “Então, o acolhimento é de fundamental importância”, argumentou.

O professor Flávio Luis Schmidt, da assessoria da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), contou que os alunos ingressantes terão de cumprir um determinado percurso formativo neste semestre, com disciplinas comuns a todos os cursos. Para o pessoal da área de Exatas, haverá também uma disciplina específica. “A partir de 2023, esse percurso vai passar a ter um ano de duração”, disse o professor.


Originalmente publica no Portal da Unicamp

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