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Tom Zé toma posse como novo reitor da Unicamp

"Ser reitor da Unicamp é uma honra. Poucos adjetivos podem qualificar a emoção deste momento"

O professor Antonio José de Almeida Meirelles, Tom Zé, tomou posse nesta segunda-feira (19) como novo reitor da Unicamp. A transferência do cargo foi realizada em uma solenidade na sala do Conselho Universitário (Consu), presidida pelo agora ex-reitor Marcelo Knobel, e contou com a presença de poucos participantes presenciais devido à necessidade de isolamento social imposta pela pandemia da Covid-19. Tom Zé recebeu as felicitações e votos de sucesso em sua gestão de órgãos representativos de docentes, professores e funcionários da Unicamp, de autoridades da Universidade, da administração municipal de Campinas e do Governo do Estado de São Paulo. 

Em seu discurso, Tom Zé afirmou que se sente honrado por assumir a reitoria da Unicamp e destacou três aspectos que devem nortear o trabalho de sua equipe à frente da Universidade. Em primeiro lugar, a manutenção e ampliação do suporte dado pela Unicamp no combate à pandemia nas áreas médica, científica e de serviços. Outro objetivo colocado por ele é o de aproximar a Universidade das demandas e carências da sociedade e, ainda, promover a valorização de professores e funcionários da Universidade.

Tom Zé defendeu a atuação da Unicamp no combate à pandemia, a aproximação com a sociedade e a valorização de docentes e funcionários (foto: Antonio Scarpinetti)

“Temos que formar pessoas e gerar conhecimento, ciência e tecnologia que sejam a base de inovações industriais, que fomentem startups, que promovam a economia solidária, que garantam ideias inovadoras para políticas públicas, que contribuam ainda mais para a melhoria dos ensinos médio e fundamental. Trata-se de não só valorizar nosso projeto de Universidade, mas de dar nossa contribuição para o desenvolvimento da sociedade de forma mais democrática, mais inclusiva e autônoma”, declarou Tom Zé. 

Indicada para assumir a Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), Maria Luiza Moretti agradeceu a confiança da comunidade em escolher a chapa formada com Tom Zé para assumir a reitoria. Ela recordou sua trajetória como estudante e docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e reforçou os compromissos da nova gestão. “Foi na Unicamp que tive oportunidades ímpares de crescimento que, sem dúvidas, não teria, e que me fizeram chegar até aqui. A Unicamp que hoje vivemos preza pela valorização e diversidade das pessoas. Uma universidade pública, democrática e inclusiva. Agora cabe a nós, atuais gestores, e a nossa comunidade dar continuidade à Unicamp como uma Universidade de excelência e inovação”, declarou Maria Luiza. 

Em sua despedida à frente da CGU, Teresa Atvars agradeceu à confiança depositada por Marcelo Knobel em seu trabalho e também à colaboração de toda a equipe da Coordenadoria, da reitoria e dos profissionais da Unicamp: “Somos funcionários públicos, o que nos obriga a responder todos os dias a quem servimos, com quem nos comprometemos. A resposta procurei dar a cada dia: servimos à sociedade. Hoje, seguramente, a Unicamp pode responder de cabeça erguida, que nós, servidores públicos da Unicamp, cumprimos nossa missão de servir à sociedade com responsabilidade, competência e compromisso”.

Da esquerda para direita: Marcelo Knobel e Teresa Atvars (gestão 2017-2021), Maria Luiza Moretti e Tom Zé (gestão 2021-2024) (foto: Antonio Scarpinetti)

Marcelo Knobel encerrou seu mandato à frente da Unicamp recordando os desafios vivenciados ao longo dos quatro anos de gestão, tais como a realização de mudanças estruturais que possibilitariam o controle orçamentário e de gestão da Universidade, a criação das políticas afirmativas de inclusão e o enfrentamento aos ataques à ciência e às universidades. Ele lembrou que, ao assumir a reitoria em 2017, mencionou o sentimento de pertencimento à uma comunidade empenhada no bem comum e na melhoria e crescimento da Unicamp e que, depois de quatro anos, esse sentimento permanece inalterado. 

“Da mesma forma, não mudei de opinião quanto à vocação da Unicamp para continuar sendo um ambiente marcado pela valorização da multiplicidade de opiniões sobre os vários aspectos da vida acadêmica e, sobretudo, pautado pelo respeito mútuo entre todos os que aqui convivem, porque é só exercendo a livre circulação de informação e promovendo a universidade como um lugar estimulante, desafiador, criativo, dinâmico e humano que a tornaremos capaz de superar os impasses e os desafios”, destacou Knobel, agradecendo o apoio de todos ao seu trabalho. 

O ato solene de posse foi conduzido pela Secretária Geral, Ângela Bignami, que fez a leitura do termo de compromisso e colheu as assinaturas de Tom Zé e de Marcelo Knobel. A transmissão do cargo foi feita de forma simbólica pela entrega da Insígnia da Unicamp ao novo reitor. Tom Zé também recebeu os cumprimentos do Prefeito de Campinas, Dário Saadi, e da Secretária Estadual de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, que representou o Governador João Dória. 

“Campinas tem muito orgulho de sediar uma das universidades mais conceituadas não só do nosso país, mas da América Latina e de todo o mundo. Por isso, nesse momento em que, para enfrentar uma pandemia, temos que enfrentar o negacionismo e o desprezo pela ciência, o papel da universidade se torna fundamental. A Unicamp é um orgulho para a cidade de Campinas”, celebrou Dário Saadi. Patrícia Ellen lembrou a importância da ciência produzida em São Paulo para o combate à pandemia: “Estou muito feliz de ver como nós estamos cada vez mais caminhando para uma união muito forte das universidades. Nós estamos passando por um momento desafiador da pandemia, que nos fez reforçar ainda mais a nossa crença na ciência, nossa crença na importância do investimento em ciência, tecnologia, pesquisa e inovação”.

A entrega da insígnia da Unicamp marca a transferência simbólica do cargo de Reitor da Unicamp (foto: Antonio Scarpinetti)

A cerimônia terminou com uma apresentação especial virtual do Coral Zíper na Boca, composto por alunos, professores e funcionários da Unicamp. Após a posse, Tom Zé deve encaminhar ao Conselho Universitário a composição de sua equipe de trabalho para a gestão 2021-2024. A sessão está marcada para o dia 27 de abril. Veja mais fotos da cerimônia de posse ao final da reportagem.

Ouça o podcast “Nova reitoria assume a Unicamp” produzido pela Rádio Unicamp:


Em entrevista ao Portal Unicamp, o novo reitor compartilhou suas prioridades e projetos para a Universidade e suas avaliações sobre os desafios que devem ser enfrentados ao longo da gestão. Confira:

Qual será a concepção e o projeto de universidade que a gestão irá defender e quais são as prioridades que a reitoria irá adotar num primeiro momento?

A concepção de universidade que se materializa na ideia de uma universidade autônoma e democrática, que valorize a qualidade, a inclusão e que valorize servir à sociedade. Ou seja, temos que estar de olho nas demandas do nosso país, e demandas num sentido vasto. Nosso país precisa de justiça, de desenvolvimento econômico, precisa resolver diversas carências. Ciência e tecnologia são essenciais para isso, são essenciais para desenvolver nossas empresas, para garantir nossa autonomia. Não só autonomia da universidade, mas do país, para que tenha um projeto seu. A Unicamp já teve muita importância na formulação de políticas públicas e isso é algo que precisamos retomar, um protagonismo de influenciar políticas para o futuro do país. É difícil fazer todas essas coisas, mas é bom a gente ter sonhos e utopias porque elas nos conduzem em nossas atividades diárias. 

Quanto às prioridades, a prioridade está dada pela própria situação do país, na questão da pandemia. Teremos que ter muita atenção com a área de saúde da Unicamp, que está totalmente envolvida no atendimento aos pacientes da Covid-19, tentando diminuir e minimizar o impacto dessa situação em nossa região e na cidade. Manter e fortalecer o suporte aos grupos de trabalho e à força-tarefa que a Unicamp criou para enfrentar vários aspectos da pandemia associados a outras especialidades. Temos um grupo que está fazendo um papel muito importante de monitoramento das populações negligenciadas, mapeando a evolução da pandemia, há um monitoramento de como está o coronavírus está se espalhando na cidade e na região. Essa seria a primeira grande prioridade: manter o que a gestão atual da Unicamp deu início e fortalecer o máximo possível. Precisamos concentrar o foco no papel essencial da Universidade no momento atual. 

Já foram decididos os membros da Administração Superior que irão compor a gestão? Que perfil terá essa equipe? 

A ideia do núcleo da equipe é procurar ter pessoas de todas as quatro áreas de conhecimento da Universidade, ter um grau de diversidade de gênero e de diversidade étnico-racial e considerar as especialidades e as expertises das áreas onde elas têm acumulado maior formação, onde têm mérito e entendimento da questão. Então é combinar esse conjunto de características para ter na equipe uma boa representação da diversidade da universidade, diversidade em todos os sentidos. Somos compostos de quatro grandes áreas do conhecimento, temos um papel crescente de pesquisadoras, cientistas e professoras e nem sempre há uma representação completa, então é importante que esse espaço seja garantido e não só no núcleo central, mas no conjunto de cargos. Temos a questão das cotas e da inclusão, que é algo muito importante na Universidade e é preciso que isso se reflita nos cargos. E nós temos que considerar o mérito, a competência, a formação e a experiência administrativa. Todos esses critérios estão sendo considerados na composição da equipe, que está numa fase já não tão inicial mas ainda não definida.

A composição da equipe que fará parte da gestão 2021-2024 será encaminhada pelo novo reitor ao Conselho Universitário. A sessão que fará a homologação da lista de indicados está marcada para 27 de abril (foto: Antonio Scarpinetti)

Na sua avaliação, quais serão os principais desafios para o período da gestão?

Nós temos um conjunto grande de desafios. Passamos por um momento muito difícil no país e esse momento é particularmente difícil porque sofremos questionamentos com relação à importância da ciência, da tecnologia, da cultura e do conhecimento. Esse é um grande questionamento de parcelas do mundo político e temos que valorizar muito a importância que a gente tem. A Unicamp tem uma importância histórica e sabemos que é muito pouco provável enfrentar os problemas que o Brasil tem de desenvolvimento, de distribuição de renda e de empregabilidade sem ciência e tecnologia, sem formação de recursos humanos de qualidade, e sem pesquisa. O desafio é a gente conseguir, com as dificuldades econômicas e de recursos, manter a nossa qualidade, manter a nossa política de inclusão, a qualidade de formação de pessoas, de desenvolvimento de pesquisa. Esses desafios, temos a absoluta certeza que vamos vencer. 

Uma das questões importantes é realmente diminuirmos nossa distância do conjunto da sociedade, seja da sociedade civil, das instituições públicas e privadas, das empresas, das empresas envolvidas em movimentos cooperativos de economia solidária, e seja do mundo político, para diminuir essa dificuldade de conversa e valorizar nosso papel como uma fonte de desenvolvimento para esse país. É algo que a Unicamp tem com muita força, mas que às vezes é mal compreendido e podemos vencer essas barreiras que sofremos. 

Durante a campanha, a chapa afirmou que um dos focos é a preservação da renda dos servidores, funcionários e docentes, com retomada das progressões. Como será realizado esse processo?

Primeiro gostaria de destacar que quando falo de todas as atividades que têm a ver com a história da Unicamp e que têm a ver com o nosso projeto de futuro e de gestão, nós temos sempre no centro a ideia de que a universidade é basicamente feita por pessoas. A grande força, a grande riqueza e o grande trunfo da universidade são os seus quadros de docentes, de funcionários e de pesquisadores, e são os seus alunos, a sua capacidade de atrair alunos com muita competência, dedicados e que querem aprender e se formar numa universidade de qualidade. Essa é nossa grande riqueza e precisamos preservá-la.

Sabemos das restrições orçamentárias, sabemos que é difícil ter fontes de recursos públicos orçamentários adicionais, então temos que ter prioridades. A nossa prioridade no que se refere a docentes, funcionários e pesquisadores é retomar processos de progressão, e acreditamos que isso cabe no orçamento. Queremos formar pelo menos dois grupos de trabalho que planejem isso. Teremos que pensar a questão orçamentária, com pessoas associadas à PRDU (Pró-reitoria de Desenvolvimento Universitário) e Aeplan (Assessoria de Economia e Planejamento), teremos que envolver bastante as pessoas mais novas da carreira docente, por exemplo, que é onde houve maior represamento, pensar como resolver a questão dos livre-docentes que não são MS-5, e planejar. Precisamos tomar essa iniciativa rapidamente para planejar essa política e implantá-la o mais rápido possível, sempre olhando a questão do orçamento, mas sem deixar de atender uma demanda que é importante para mantermos a solidariedade interna, como chamei na campanha, das pessoas se sentirem motivadas, o que também passa por recuperar a esperança na universidade. A gente passa por uma situação difícil no país e injetar ânimo nas pessoas é um papel importante para a gestão, o que passa entre outras coisas pela retomada de perspectivas de carreira. 

Nós teremos mais dificuldades com algo que também é necessário, e não há dúvida que teremos que olhar a evolução orçamentária para tomar essas decisões, que é a questão das contratações, porque nós tivemos uma diminuição do quadro de docentes e de funcionários e teremos que fazer isso por etapas. A nossa prioridade é olhar primeiro com carinho para a questão das progressões, para aquelas pessoas que já estão na atividade e que precisam ter mais incentivo para manter o desenvolvimento da nossa atividade e até expandir nossas ações de ensino, pesquisa e extensão.

Outro aspecto importante, até para manter a solidariedade entre a nossa comunidade, é a manutenção e fortalecimento das políticas de inclusão e permanência estudantil. Precisamos pensar a comunidade como um todo, que é composta por docentes, funcionários, pesquisadores e estudantes. Provavelmente não conseguiremos resolver, em função das restrições orçamentárias, o conjunto de problemas, mas não podemos deixar de atacar alguns problemas de início. As progressões consideramos como uma parte e outra é a questão da permanência e da moradia estudantil.

Tom Zé: “O desafio é a gente conseguir, com as dificuldades econômicas e de recursos, manter a nossa qualidade, manter a nossa política de inclusão, a qualidade de formação de pessoas, de desenvolvimento de pesquisa. Esses desafios, temos a absoluta certeza que vamos vencer” (foto: Antonio Scarpinetti)

Entrando mais nesse eixo, também bastante apontado pela chapa, que passos serão tomados para o fortalecimento da permanência estudantil?

Acredito que o mais importante nesse momento é olhar para a questão da Moradia Estudantil com atenção, fazer manutenção e conservação. Também é preciso olhar para os novos estudantes que entraram através dos programas de inclusão para ver que ações precisamos tomar. Estamos nessa situação de pandemia e de ensino remoto, então é preciso dar o suporte de recursos de informática, que é uma ação que a atual reitoria começou e que é importante manter e fortalecer. E também ter um diálogo muito aberto pelas pessoas afetadas para que possamos atender às demandas na medida do possível.

Como avalia esse período de atividades remotas na Unicamp? Essa experiência poderá incidir sobre o futuro das atividades na Unicamp?

Acredito que fizemos o que era possível de fazer diante do quadro. Quando tivemos o início do isolamento social, eu tive uma postura defendendo mais conversa sobre o assunto. Achei que naquele período poderíamos ter organizado a transição de uma forma mais suave. Apesar dessa diferença de opinião, acredito que a Universidade teve bastante êxito na transição para a atividade remota. Teve êxito na atividade de ensino, na atividade dos funcionários e atividades administrativas, então acho que foi um movimento correto. Não tenho dúvida que não é exatamente a mesma coisa, acredito que é importante que o ensino tenha uma parte presencial. É essencial para troca de informações, para uma troca de interações mais efetiva, para uma vivência universitária. Eu imagino que as pessoas, assim como eu, estejam carentes das relações pessoais e há impacto também na formação. Essa sociabilidade desempenha um papel de aprendizado e a gente não consegue realizar isso muito bem via ensino remoto.

Tenho impressão que mudou a situação, e o uso de mídias e de instrumentos de aprendizado à distância serão mais fortes no pós-pandemia, mas teremos que ter uma combinação adequada entre ensino presencial e ensino à distância, inclusive pensando que uma coisa fortaleça outra, que não sejam concorrenciais, mas complementares para que se tenha uma formação melhor. Provavelmente poderemos usar esses instrumentos para uma formação prévia, e que as aulas presenciais aprofundem o assunto, ou que se use esses instrumentos complementares para relembrar as aulas ou adquirir formação maior depois da aula presencial. Acredito que podemos nos abrir a esse universo. Eu participei de um trabalho junto à Adunicamp, um levantamento, e o que a gente nota é que a maioria dos docentes é favorável a algum tipo de combinação. Desagrada à maioria tanto excluir a possibilidade como imaginar um ensino totalmente remoto. Então as pessoas estão abertas a uma discussão de uma boa combinação. O que a administração precisa fazer é garantir esse espaço de discussão para garantir a dose certa.

E nas atividades administrativas?

Acho que temos que trabalhar com essa perspectiva também, de que as atividades possam ser parcialmente realizadas de forma remota. E trabalhar com a possibilidade significa abrir uma discussão sobre o trabalho remoto na Unicamp. Nós sabemos que há atividades que precisam ser necessariamente presenciais, então precisamos criar na comunidade universitária um conforto com a ideia de que as pessoas estão desenvolvendo suas atividades com boa dedicação e bom desempenho em todas essas situações, presenciais e remotas. Criar esse ambiente envolve também um diálogo com a comunidade. Acho importante que a gente não se estabeleça a priori como isso vai ser feito, mas que se abra um processo de discussão que regulamente isso, dando à grande parte da comunidade um conforto com essa diferenciação com a forma de realizar o trabalho. Acredito que não voltaremos para trás, estamos passando por uma experiência que não afeta só o nosso presente, mas vai afetar também o futuro. A questão é como vai afetar e isso tem que ser uma negociação entre a administração e a comunidade. Nós fazemos uma atividade que envolve muitas pessoas, então não podemos tomar decisões sem contemplar as expectativas e desejos das pessoas para podermos definir as regras do jogo.

“A Unicamp tem uma importância histórica e sabemos que é muito pouco provável enfrentar os problemas que o Brasil tem de desenvolvimento, de distribuição de renda e de empregabilidade sem ciência e tecnologia, sem formação de recursos humanos de qualidade, e sem pesquisa” (foto: Antonio Scarpinetti)

Em relação ao cenário econômico, medidas de diversas instâncias de governos pautam os cortes orçamentários e também colocam em xeque a autonomia universitária. Como a gestão se posiciona a respeito e como pretende lidar com essas questões?

Nós temos um compromisso forte e completo com a defesa da autonomia. Essa defesa gera uma responsabilidade orçamentária, que precisamos levar à frente, e uma responsabilidade na defesa desse orçamento. A autonomia nasce com o compromisso do governo do estado com o financiamento da universidade e o nosso compromisso é organizar as nossas despesas ao longo tempo para caber no orçamento previsto. Nós passamos por uma situação orçamentária que é difícil por conta da situação de crise econômica, o Brasil está há cinco anos em crise, com baixo crescimento. No nosso programa, os graus de liberdade que imaginamos para recuperar as progressões e para tentar ver se é possível algum nível de contratação sempre tiveram como base uma expectativa realista de crescimento orçamentário, e precisamos sempre acompanhar se essa expectativa vai se realizar. 

O risco neste ano está associado à gravidade da pandemia e ao fato de que até o momento o auxílio emergencial para as pessoas que estão expostas ao desemprego e às dificuldades da economia privada, não tem a dimensão que teve o ano passado. O auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional (em 2020) foi essencial para manter um certo desempenho econômico mínimo e infelizmente isso não aconteceu em 2021. Nós temos  expectativa que isso aconteça, porque há um sofrimento das pessoas, e nós temos milhões de empregados, tem piorado a distribuição de renda e tem aumentado a pobreza, então ter o auxílio é essencial. E também é essencial para manter a arrecadação e o nosso orçamento. Vamos acompanhar de perto para ver se isso ocorre. Fora isso, temos que ter iniciativas de ter buscar outras fontes orçamentárias: aumentar nossos vínculos de desenvolver pesquisa para o mundo industrial, procurar outras fontes de financiamento, como fundos patrimoniais, e a Unicamp já criou o Lumina. Temos também uma iniciativa dos próprios ex-estudantes, o Patronos, que é também uma iniciativa desse tipo e temos que estreitar. E ir atrás de outras fontes de recursos públicos também. Essa iniciativa a administração tem que tomar desde o início. Há convênios na área de pesquisa, como em pesquisas na área de energia elétrica, que estão sendo financiados por empresas e que é para formação de pessoas, não é só para o rendimento da Universidade, mas para formar mestres, doutores, alunos de iniciação científica. Isso vai ao encontro de algo que é importante para a atividade universitária como entidade pública também.

Essas estratégias também são pensadas para a pesquisa, que se encontra bastante subfinanciada?

Não é uma situação fácil, nós temos que batalhar porque, por exemplo, recentemente nós temos problemas na Capes em um momento que estamos passando por processos de avaliação. Não é uma situação fácil e teremos que agir com o poder de influência da nossa comunidade, defendendo o financiamento do governo federal à pesquisa, aos pós-graduandos, e ver o que é possível para diminuir os feitos. Temos áreas mais expostas a esse tipo de dificuldade e teremos que dar atenção especial a elas. Nós temos outras áreas que têm alguma possibilidade de obter recursos externos e precisamos incentivar isso também. Mas não é uma situação fácil, porque em função da crise temos dificuldade de buscar financiamento alternativo. Tem um elemento da questão política que é a necessidade de construir cordões de defesa da Universidade, então nos aproximarmos do mundo político, das prefeituras, vereadores, deputados, do governo estadual, que tem tido um papel importante por vezes na questão da ciência tecnologia, como na vacinação no estado de São Paulo. Então temos que valorizar essas relações para criar uma frente de defesa do conhecimento, da ciência e da tecnologia no país. Isso indiretamente agirá na nossa pós-graduação e no financiamento à pesquisa.

Mesmo diante de um contexto de agravamento de posturas negacionistas e de subfinanciamento à pesquisa, o papel das instituições públicas de ensino, como a Unicamp, tem se mostrado fundamental para lidar com a pandemia, seja nos atendimentos ou nas pesquisas. Como a reitoria pretende ressaltar esse papel diante da sociedade em geral e como manter e reforçar o protagonismo da Universidade?

Acredito que um dos grandes desafios que temos na próxima gestão é melhorar nossos mecanismos de contato com a comunidade externa, com a diversidade da comunidade. Temos a sociedade política, as instituições públicas e precisamos nos aproximar dessas pessoas, levar a nossa mensagem e mostrar a importância da universidade. Nós precisamos nos aproximar do mundo empresarial, ter mais contato e de forma permanente, procurando facilitar formas de financiamento à pesquisa que sejam feitas com recursos de empresas. Nós temos que nos aproximar de comunidades que tenham vontade de desenvolver negócios, fortalecer a perspectiva da economia solidária. É também papel da universidade auxiliar populações mais carentes a desenvolver formas de sustento autônomo. Nós temos vários exemplos internos na Unicamp de iniciativa de docentes e de alunos nesse sentido e podemos dar outra dimensão pra isso. Nós temos ações importantes na Unicamp como a formação nas Licenciaturas. A Unicamp forma cerca de 600 professores de ensino fundamental e médio por ano. Podemos procurar as secretarias municipais para fazer ações conjuntas que valorizem mais a nossa licenciatura e o nosso papel na formação da juventude pré-universitária. 

Acredito que podemos usar também a nossa política de inclusão, que é extremamente importante, para nos aproximarmos do ensino público pré-universitário. A nossa comunidade precisa se envolver em atividades para levar a Unicamp para fora. Ao criar esses laços, nós valorizamos a importância que a Universidade tem para o desenvolvimento do país e para resolver as chagas da nossa história, como a má distribuição de renda e a exclusão grande de populações do acesso à universidade. A nossa área de saúde é onde executamos da melhor forma possível. No contexto da pandemia ninguém tem dúvida, exceto os negacionistas mais convictos, de que sem o Sistema Único de Saúde e sem as universidades públicas e a rede hospitalar associada a elas, nós teríamos uma dificuldade imensa de minimizar os efeitos dessa pandemia. Essa conquista, que é da comunidade da área de saúde, precisamos verbalizar a todo momento. Tem um elemento também da universidade precisar se comunicar melhor com a sociedade, mas também precisam ser feitas ações como as mencionadas anteriormente.


Originalmente publicado no Portal da Unicamp

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